Os Caminhos Sagrados da Magia

07-12-2013 10:00

- Por Kleber Monteiro –

“Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem...” Esse dizer do Norte da Espanha, da Galícia, resume bem a relação mais corriqueira das pessoas com o mundo misterioso da magia. Já ouvi muita gente dizer que não acredita “nessas coisas”, mas “morre de medo”. A princípio, esse é um campo fechado no mistério, encoberto pelo denso nevoeiro do misticismo, pelas brumas da superstição.

Acreditar na magia ou no ocultismo, no poder curativo dos cristais, na existência de fadas, gnomos, silfos e salamandras, no poder dos amuletos sagrados ou na força sobrenatural das feitiçarias, é coisa para quem não tem “os pés no chão” ou para os tolos. Contudo, a verdade é que as crenças mágicas povoam o imaginário popular e atraem muita gente.

As roupas extravagantes, os incensos, as pedras, os símbolos, enfim, são acessórios com o valor de sagrado para cada religião esotérica ou seitas ocultistas. Isso, além de criar uma ambiência de sugestão, daquela sensação de pisar em terreno sobrenatural e fantástico, ajuda a manter a concentração e fazer convergir todo o foco de atenção de seus sacerdotes e sacerdotisas. Resultado: sensação de êxtase, de desconexão com a realidade imediata e imersão no transe, no estado alterado de consciência.

Durante o envolvimento completo com o ritual, seja uma música, orações sagradas, objetos mágicos, alucinógenos, as sensações ocultas começam a vir à tona e no clímax da entrega o corpo se agita, os olhos se reviram, a voz embarga... E eis que surgem as profecias, o contato com os mortos, a clarividência, a cura paranormal... Afinal de contas, as faculdades espirituais não estão confinadas no Espiritismo. Nostradamus usava olhar o fundo de uma bacia com símbolos ocultistas onde era depositada água cristalina e cobria a cabeça com uma toalha, para em seguida fazer suas profecias de acordo com o que passava a ver naquele instante.

Com todo e profundo respeito à diversidade religiosa e de crenças, mas, ao contrário de mestres como Nostradamus, há uma quase generalizada ritualística cujo fim é muito mais impressionar e ludibriar almas sugestionáveis. Por isso, a pertinência das palavras de Zaratustra, conforme os “Oráculos Caldeus”:

Não dirijas a tua mente às vastas superfícies da terra, pois a planta da Verdade não cresce no chão... O voo das aves não proporciona autêntico conhecimento, nem tampouco a dissecação das vísceras das vítimas; estes são simples jogos, instrumentos de fraude mercenária; foge deles se queres entrar no sagrado paraíso.” (Apud LOUREIRO, Carlos Bernardo. Os Caminhos Sagrados da Magia)

Existe uma diferença importante entre Esoterismo e Exoterismo. O primeiro representa um conhecimento fechado, apenas acessível aos iniciados, enquanto o segundo é a forma de contato mais superficial com o ocultismo. Neste último caso, só se reconhece aquilo que está na superfície. A crença em deuses como personagens concretos, diferindo da humanidade por seus poderes e imortalidade. Para o Esoterismo, entretanto, trata-se de personificações de princípios da natureza, a exemplo do deus Eros que corresponde ao princípio do amor.

Esse conhecimento é importante para saber como interpretar rituais mágicos, pois a personificação de princípios naturais nos deuses é um dos fundamentos da magia, segundo Eliphas Lévi, autor de Dogmas e Rituais da Alta Magia e de A História da Magia. A saber, são três os fundamentos: lei de correspondência, princípio da vontade humana e princípio da luz astral.

Vejamos como isso ocorre com o exemplo da invocação do deus Marte:

  • Lei das Correspondências: o número de Marte é o cinco. Utilizará cinco velas (elemento fogo) para iluminar o altar, cujo centro está situado em um pentagrama. A arma mágica é uma espada, símbolo de Marte, o deus da guerra. A vestimenta é vermelha e a pedra é o rubi (correspondentes à cor de Marte). Queimará incensos relacionados, como a pimenta.
  • Lei da Vontade: inflamar-se com uma oração. Vontade fortalecida e disciplinada.
  • Lei da Luz Astral: enviar o seu raio de pensamento através da luz astral (matéria sutil) para firmar o laço pretendido.

Entendidas essas leis, a pergunta é “para que servem mesmo?” Indo além dos aspectos formais, o mago entende que o macrocosmo (Universo) corrige as deficiências do microcosmo (ser humano), e essa relação é a de um espelho mágico. Como dizia o filósofo italiano Benedetto Croce: “o espelho d'água que reflete a paisagem também faz parte dela”. Nessa ligação profunda com as forças naturais, o mago estará livre da covardia que lhe atormentava, já que Marte corresponde ao princípio da força, do destemor, da ousadia.

Essa relação mágica é o fundamento da ligação sagrada entre a magia ou a filosofia ocultista e a natureza, fonte das forças elementais que dinamizam a vida. Conforme Carlos Bernardo Loureiro:

Essa união com o Eterno ilumina os caminhos dos místicos através das brumas e obscuridades dos sistemas éticos e teleológicos. Os que se entregavam de corpo e alma aos ditames da Ordem Divina, eram inspirados pela Sabedoria, pela Verdade e pela Justiça.” (LOUREIRO, Carlos Bernardo. Os Caminhos Sagrados da Magia)

Acredito que este é um caminho sagrado no qual precisamos voltar a trilhar. À semelhança dos mestres da filosofia oculta, precisamos ter olhos de ver e ouvidos de ouvir para sentirmos e venerarmos a vida em toda a sua grandiosidade divina. Nesse sentido, podemos abraçar os caminhos sagrados da magia, afinal de contas:

O Espiritismo não dogmatiza. Não é nem uma seita, nem uma ortodoxia, mas uma filosofia viva, aberta a todos os espíritos livres, filosofia que evolve, que progride. Não impõe nada; propõe. O que propõe apoia em fatos de experiência e em provas morais. Não exclui qualquer outra crença, antes a todas abraça numa fórmula mais vasta, numa expressão mais elevada e extensa da verdade.” (Denis, Leon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor)

(Artigo escrito a propósito de um curso do IAKEE sobre um dos livros de Carlos Bernardo Loureiro, cujo título é o mesmo deste texto)


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