- Lúcia Loureiro -
Inúmeras questões existenciais têm preocupado a Humanidade no decorrer dos séculos. Uma delas é a do destino da alma após a morte e as religiões procuram responder as dúvidas dos prosélitos sobre o viver e o morrer. Ao me iniciar no Espiritismo, observei que a maioria dos frequentadores de casas espíritas trazia consigo sempre essas preocupações a respeito de si mesmos quanto ao futuro e dos entes queridos que já haviam partido: O que acontecerá após a morte? Existirá um mundo espiritual? Estariam sofrendo ou em um bom lugar? Ansiavam por mensagens de além-túmulo que lhes trouxessem respostas que acalmassem seus sofrimentos e aplacassem a saudade dos que se foram.
A questão da sobrevivência do Espírito e da existência do mundo espiritual sempre desempenhou papel importante na cultura dos povos. Os egípcios, os gregos, os persas e os indígenas são exemplos dos que acreditaram, cada um a sua maneira, em vida após a morte. Sobre a ideia de que tudo se acaba no túmulo, os Espíritos têm dado provas abundantes de que a vida prossegue após o término do corpo físico, sem solução de continuidade, no que diz respeito às relações de amizade e de ódio, às atitudes, aos defeitos e vícios, enfim aos condicionamentos vários que carregamos de cada existência. Cotejando vários depoimentos contidos em obras mediúnicas publicadas em diversos países, percebe-se que o Espírito, logo após a desencarnação, tem necessidade de manter uma estrutura semelhante à da Terra. Alguns têm um apego tão forte à vida mundana que, ao morrerem, dela não se libertam facilmente, pelo apego à vida mundana, à posse de bens, às necessidades fisiológicas etc. Outros permanecem, por pouco tempo, ligados ao cotidiano como encarnados estivessem, mas, passada uma determinada fase, alçam a planos mais elevados.
O medo da morte está presente em todas as classes sociais. É um sentimento natural inerente ao ser humano. Para isso, Deus dotou a alma do instinto de conservação. Trata-se de um sentimento natural, sem o qual ninguém sobreviveria. A criança chora porque tem fome, tem sede ou porque algo a incomoda. Ela só não evita o perigo que desconhece, como o fogo que queima, a queda de uma altura que mata. Com o avanço da idade e desenvolvimento do raciocínio, o indivíduo aguça seu instinto de conservação. O temor da morte é o temor do desconhecido, daquele momento do transe, do sofrimento, da dor física. Quem assistiu à célebre entrevista pinga-fogo dada à televisão pelo médium Chico Xavier há alguns deve lembrar um episódio narrado por ele, ao se referir ao medo de morrer. Estava ele em viagem aérea quando, de repente, iniciou-se um período de forte turbulência. Chico, apavorado, começou a dar mostras de medo e a falar alto. Nesse momento, o Espírito Emmanuel surge ao seu lado e estabelecem um diálogo:
-Chico, porque você está gritando assim? Não vê que está assustando seus companheiros de viagem?
E Chico respondeu:
-Estou com medo de um desastre
Emmanuel diz:
-Você bem sabe que a morte não existe. Deveria, portanto, dar o exemplo.
E Chico:
-Sei, mas não consigo me controlar. Tenho medo do momento da morte. Desse transe doloroso.
E Emmanuel conclui:
-Está bem. Tenha medo, mas morra com educação.
Esclarece Kardec na obra da codificação O Céu e o Inferno: À proporção que o homem compreende melhor a vida futura, o temor da morte diminui: uma vez esclarecida a sua missão terrena, aguarda-lhe o fim, calma, resignada e serenamente.
Isso não significa, entretanto, que o Homem não se acautele contra os perigos e não utilize seus mecanismos de defesa. Com a conscientização do destino do ser no Universo, o temor diminui e a morte deixa de ser um fato apavorante, mas não acaba totalmente. Mesmo sabendo que a morte não é fim da existência do Espírito, o indivíduo tem o dever de se afastar de tudo que atente contra sua integridade física e puser sua vida em risco, prolongando cada encarnação pelo maior período possível. Parece um paradoxo: não ter apego à vida material e conservar a existência na Terra por todos os meios proporcionados pelas pesquisas, pela ciência e pela tecnologia empregadas pelo Homem. Os cuidados com a saúde como, por exemplo, a higienização do corpo, alimentação saudável e sem exagero, não intoxicar o organismos com drogas e outras substâncias nocivas entre outros devem constituir um hábito natural do ser humano.
Embora não se inclua no conceito de uma religião tradicional, mas sim uma ciência filosófica de consequências morais, a Doutrina Espírita tem suas respostas sobre a imortalidade pessoal e o mundo espiritual, conforme os Espíritos informaram a Allan Kardec através dos médiuns que o auxiliaram na organização básica dos ensinamentos do Espiritismo. Assim responderam os Espíritos quando ele lhes perguntou se o instinto de conservação é uma lei natural:
-Sem dúvida. Ele é dado a todos os seres vivos, qualquer que seja o grau de sua inteligência. Em uns, ele é puramente maquinal, em outros ele é racional.
E complementam, quando Kardec pergunta se o instinto de conservação é uma lei natural:
-E com que objetivo Deus deu a todos os seres vivos o instinto de conservação?
-Porque todos devem concorrer para os objetivos da Providência. É por isso que Deus lhes deu a necessidade de viver. Aliás, a vida é necessária ao aperfeiçoamento dos seres, e eles o sentem instintivamente sem se aperceberem. (Pergs. 702 e 703 de O Livro dos Espíritos.)
Kardec, observando a insegurança do ser humano quanto ao que o aguarda após a morte e para dar a certeza de que a imortalidade pessoal é uma realidade, coletou testemunhos de Espíritos cujos depoimentos estão registrados na obra O Céu e o Inferno. Nela, os Espíritos fazem revelações do mundo invisível e confessam os erros e acertos que cometeram no seu relacionamento com o próximo e que os levaram a estar, temporariamente, em determinada faixa evolutiva, agrupados com Espíritos com que têm afinidade. Como cada Espírito segue uma trajetória, os relatos oriundos do plano invisível transmitidos pelos médiuns se repetem em alguns aspectos e se diferenciam em outros. Por isso, as características dos cenários descritos por eles variam de um relato para o outro, devido, também, ao status moral em que cada Espírito se encontra.
Os agrupamentos comunitários formados no mundo espiritual, aos quais os mortos se referem nas mensagens mediúnicas, seja como habitantes ou auxiliares das atividades ou aprendizes, são denominados “Colônias Espirituais”. Segundo tais informações, eles habitam as “Colônias”, também chamadas mundos transitórios, por um determinado período até que venham a reencarnar. São, na realidade, bases de apoio criadas pelo pensamento dos Espíritos, cuja estrutura tem a finalidade de proporcionar aos recém-desencarnados um ambiente semelhante ao que viveram na Terra.
Jesus, o Cristo, assim se expressou sobre a questão em suas pregações registradas nos Evangelhos por seus discípulos: - Há muitas moradas na casa de meu pai. Se assim não fosse, eu vo-lo teria dito; pois vou preparar-vos o lugar. Referia-se ele ao mundo espiritual, à dimensão para onde os mortos vão logo que desencarnam destinadas a dar-lhes um certo conforto e a impressão de estar em locais semelhantes aos em que residiram ou viveram parte de suas vidas. Com o mesmo objetivo e pelo mesmo processo são criados objetos pessoais, tais como vestimentas, livros, instrumentos musicais etc. Dessa forma, o plano invisível é um mundo paralelo, onde tudo que existe aqui também existe lá. Como nas metrópoles terrenas, os habitantes das “Colônias Espirituais” estão em constante movimento e, quando suas condições permitem, vão de uma para outra, trocando experiências com outros agrupamentos. Conforme revelam as mensagens mediúnicas, os Espíritos continuam a fazer, no mundo espiritual, o mesmo que faziam na Terra quando encarnados e, às vezes, muito melhor. Músicos, pintores, artistas teatrais, médicos e engenheiros continuam a desenvolver trabalhos que, muitas vezes, são transmitidos através dos médiuns. Os Espíritos se unem por simpatia ou afinidades de diversa ordem: gosto pela música, crenças religiosas, o afã de ajudar e, também, de nada fazer ou praticar o mal. São esses os motivos determinantes na formação dos agrupamentos que constituem as “Colônias Espirituais”. Ao morrer, o Espírito muda, apenas, de dimensão, mas continua na mesma condição moral, conservando, por maior ou menor tempo, a forma física que possuía. Entretanto, há quem duvide da imortalidade pessoal e das revelações trazidas do mundo espiritual, ainda que provas irrefutáveis lhe sejam apresentadas. A crença na vida após a morte varia de indivíduo para indivíduo; uns a aceitam com naturalidade enquanto outros demonstram maior resistência à possibilidade de existir algo além do túmulo. Acham melhor acreditar que tudo se acaba com a desintegração do corpo e que tudo que produziram durante a existência terrena se transformará em despojos fétidos e se confundirá com o pó.
REFERÊNCIAS:
KARDEC, Allan.O Céu e o Inferno. Editora IDE.
O Livro dos Espíritos. Editorra Ide.
LOUREIRO, Lúcia. Colônias Espirituais. Editora Mnêmio Túlio.