O Mundo Espiritual

- Djalma Argollo -

Todos os povos sempre tiveram suas crenças sobre o mundo espiritual. Os povos primitivos creem num mundo espiritual, semelhante à terra, onde continuam seus hábitos e costumes, sem as dificuldades inerentes à vida humana: os esquimós creem que o Além é um local gelado, com abundância de focas e baleias. Índios norte-americanos acreditam nos “eternos campos de caça”, onde poderiam continuar suas aventuras guerreira e cinegéticas. Os Egípcios, no Livro dos Mortos, diz que os mortos ao serem julgados por Anúbis, poderiam ir para um lugar paradisíaco, para um lugar de sofrimento, ou ainda reencarnar, inclusive, em corpos de animais.  Os antigos gregos falavam na existência do Hades, para onde iam os mortos de um modo geral, o Tártaro, lugar das almas dos muito criminosos e a Ilha das Bem-aventuranças para as almas boas. Os hindus possuem descrições do Além: as primeiras estavam nas entranhas da terra e numa região espiritual misturada com a humanidade. Os segundos, em planetas Astrais donde voltariam os Espíritos à reencarnação, para se libertarem da ilusão de Maya, única forma de encontrarem a felicidade perfeita, pois significará a integração definitiva em Brahman. Os Hebreus, todavia, não tinham uma concepção clara sobre a vida espiritual. Para eles, Deus castigava ou premiava ainda nesta vida. Depois da morte, as almas iam para o Sheol, que era uma espécie de limbo, o qual também recebia o nome de “Vale da sombra da morte”. No tempo de Jesus, todavia, já se tinha desenvolvido uma ideia do Além. Os fariseus ensinavam que, após a morte, a alma dos maus sofria o merecido castigo, enquanto os bons volviam à vida, num outro corpo. Baseado nas colocações metafóricas do Cristo sobre o fogo consciencial que castiga os maus no outro mundo, e nas benesses da consciência em paz que acompanha os virtuosos, os cristãos elaboraram um mundo espiritual definido entre um local de castigos eternos, em fogo e enxofre. A exceção foi Origens, da Escola de Alexandria, o qual desenvolveu a teoria da preexistência da alma, as quais viviam em países semelhantes aos da Terra. Os muçulmanos, realizando o sincretismo entre o Judaísmo, o Cristianismo e suas crenças tribais, idealizaram um inferno de dores e castigos eternais, ao lado de um céu onde as Huris proporcionariam prazeres físicos e espirituais aos praticantes dos preceitos do Alcorão.
Na Idade Moderna, as primeiras comunicações espirituais através dos médiuns pioneiros, é noticiada a existência de uma região invisível, envolvendo e penetrando o nosso planeta, onde os Espíritos passam a viver, depois de se desligarem do corpo físico. Swedenborg extraiu de suas visões um conceito de similitude com paisagens terrenas: “Eles (os espíritos maus) se ocultam em cavernas escuras e em buracos nas rochas, porque amaram a falsidade e odiaram a verdade. Tais cavernas e os buracos negros correspondem à falsidade, assim como a luz corresponde à verdade. Do mesmo modo, Andrew Jackson Davis que afirmava ter como mentor o Espírito de Swedenborg, falava da vida Além-túmulo, como guardando similaridades com a Terra. Quando surgiu o Livro dos Espíritos, fruto das pesquisas de Allan Kardec, guiado pelo Espírito da Verdade e sua equipe espiritual, desenhou-se uma descrição coerente do mundo invisível, que aprofundava e esclarecia muito do que se dissera antes. O ponto fundamental foi a modificação do conceito tradicional de Céu e inferno como lugares permanentes de gozo e sofrimento, depois da morte, e a afirmação da existência de ambientes espirituais, criados por afinidade eletiva entre os Espíritos, onde há satisfação ou carência, alegria ou tristeza, prazer ou sofrimento, de acordo com o conteúdo consciencial levado do Orbe, fruto das ações de cada um, durante a vida física: “Os seres materiais constituem o mundo visível ou corporal, e os seres imateriais o mundo invisível ou espírita, quer dizer, dos Espíritos. O mundo espírita é normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo”. “À sua reentrada no mundo dos espíritos, a alma aí reencontra todos aqueles que conheceu na Terra, e todas as suas existências anteriores lhe voltam à memória, com a lembrança de todo o bem e de todo o mal que ela fez”. “Os Espíritos não encarnados ou errantes não ocupam uma região determinada e circunscrita; eles estão por toda parte, no espaço e ao nosso lado, nos veem e nos acotovelam sem cessar; é toda uma população invisível que se agita à nossa volta”. Nas obras básicas do Espiritismo os Espíritos Consolidadores em momento algum falam de cidades, aspectos “geográficos”, flora ou fauna no plano espiritual. Em 1937, apareceram os trabalhos mediúnicos de Chico Xavier: Humberto de Campos preparava o caminho para o trabalho revelador de André Luiz.
As descrições feitas por André Luiz são pertinentes à parte estruturada pelo psiquismo Ocidental e, mais particularmente, o brasileiro. Isto quer dizer que o mundo espiritual elaborado pelo psiquismo Oriental poderá apresentar algumas diferenças morfológicas, embora no fundamental estejam a se produzir os mesmos fenômenos. Fazemos a ressalva baseados em que a matéria espiritual é amoldável de acordo com os impulsos dominantes no inconsciente individual e coletivo dos povos. A esfera onde permanecem os Espíritos com desvios morais recebe, dos que vivem em “Nosso Lar”, o nome de “Umbral”, por iniciar ao nível da Crosta, sendo a porta de entrada do plano espiritual. A referência a “cavernas” onde ficam Espíritos embrutecidos no mal, não é uma figura de retórica, mas descrição de um fato encontradiço nas regiões invisíveis, e referido desde tempos imemoriais até narrações de Swedenborg, como visto, e as de EVP (Electronics Voices Phenomenon), captadas por Jürgenson, para citarmos apenas os trabalhos "não ortodoxos" do campo mediúnico 134 . Sabemos, porém, pelas mesmas fontes, que esses antros de dor permitidos pela Misericórdia de Deus, se transformam em locais de tratamento, rude é verdade, e recuperação das almas rebeldes, as quais retornarão, cedo ou tarde, aos caminhos da virtude e da fraternidade, marchando para a perfeição, meta iniludível de todos os seres criados.



 

 


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