- Djalma Argollo -
Introdução ao Conceito de Corpo Espiritual
Com as experiências espíritas, verificou-se que a essência do indivíduo, ou princípio inteligente, está envolvida por um complexo energético que muitos já haviam intuído. Na questão 93 de O Livro dos Espíritos, afirma-se que o espírito está sempre envolvido por uma substância e, no seu comentário, Allan Kardec denominou-a de perispírito (do grego peri = em volta de; e do latim spiritus = sopro, espírito), retirando o nome de uma analogia com o perisperma que envolve a semente. Para fazer a ligação entre o princípio inteligente e o corpo, é necessário um mediador plástico; contudo, para que este possa agir, se faz preciso um elo intermediador: o princípio vital. Este é gerado pela ação das energias produzidas na zona de fronteira entre a dimensão espiritual e a material.
Surgiu, assim, na história do pensamento, a primeira descrição racional e objetiva do ser espiritual. Esse corpo espiritual já aparece citado no Rigveda: Desdobra, oh! Deus, os teus esplendores e dá assim ao morto o novo corpo em que a alma será transportada, segundo a tua vontade; os egípcios denominavam de Ka, ao duplo do morto, ao envoltório do espírito; na China dizia-se: ...por mais sutis e imperceptíveis que sejam eles (os espíritos) se manifestam pelas formas corpóreas dos seres, sendo real, verdadeira, a essência deles não pode deixar de se manifestar sob uma forma qualquer; entre os Judeus, a cabala denomina o corpo espiritual de Nephesh; filósofos gregos cognominavam-no Ochema, enquanto Hipócrates o chamou de Enormon; dentre os cristãos, São Paulo assim se expressa: Semeia-se corpo animal, ressuscita-se em corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual (I Cor 15, 43-44), e Orígenes diz que o corpo espiritual participa das encarnações da alma nos diversos mundos, sendo necessário para ela animar vários corpos; Paracelso, célebre alquimista e médico, deu-lhe o nome de corpo astral, por achar que sua tessitura era formada de e- manações dos astros.
O perispírito é a estrutura modeladora, organizadora e gerenciadora do corpo físico; molde energético onde se encontram os mecanismos responsáveis por todas as funções orgânicas, desde a seleção dos princípios hereditários até a organização da célula ovo e seu desenvolvimento num organismo complexo. Ele contém a matriz filogenética que promove a repetição organogênica das principais etapas evolutivas do ser. Em seu bojo se radicam os centros funcionais que dirigem e controlam as emissões arquetípicas do inconsciente profundo, geradoras das funções fisiopsíquicas dos seres vivos, mais especificamente da espécie humana, onde se a- presentam altamente complexas e refinadas.
O perispírito é o veículo onde são gravados os resultados do processo evolutivo do homem, isto é, o fruto das interações dos seres com o meio ambiente em sua globalidade. As experiências existenciais, repetidas ad nauseam, são nele fi- xadas como reflexos condicionados psicossomáticos, tornando-se substratos condutores dos processos mentais e fisiológicos. As mutações, estudadas pelo botânico holandês Hugo de Vries (1848-1935), cuja importância no mecanismo da evolução é imensa, se implantam no corpo espiritual quando oriundas de fatores externos, ou surgem dele, ao serem produzidas por alterações induzidas pelo próprio indivíduo, de caráter benigno ou maligno, através de atitudes comprometedoras do seu equilíbrio organizacional. Vale considerar que atos de impacto orgânico, ou psicológico, podem se expressar paligenesicamente como manifestação fenotípica, sem estarem fundamentados numa herança genética natural, simplesmente porque nascida de uma perturbação organizacional do corpo espiritual de caráter temporário. Isso porque é o perispírito quem coordena a seleção genética na formação da célula ovo, como fulcro biogenético preexistente, não só selecionando o material cromossômico dos gametas masculinos e femininos, bem como modificando o próprio código genético, reprogramando-o de acordo com sua realidade estrutural do momento. Muitas dessas alte- rações ocorrem dentro de um padrão patológico, criando as síndromes fisiológicas anormais congênitas, bem como as que acontecem durante o transcurso existencial, dentro de extenso quadro de patogenias diversas.
Através dos estudos mediúnicos contemporâneos, bem como das reflexões de notáveis pesquisadores e pensadores espiritistas de ontem e de hoje, se constata que as atividades do perispírito abrangem, inclusive, a dimensão psicológica sendo não só responsável pelo controle do automatismo fisiológico, mas sediando igualmente o registro dos fatos de ordem psíquica, como a memória, os inconscientes passado e atual, enfim, todos os fenômenos mentais. Isso porque o perispírito se organiza em diversos níveis de energia, que se responsabilizam pelos matizes da manifestação físiopsicoló- gica dos indivíduos. Como, porém, o perispírito é um complexo orgânico, o verdadeiro responsável pela existência e funcionamento do ser é o princípio inteligente, ou espírito propriamente dito, centelha divina, raio consciente do pensamento de Deus.