O Reino de Deus Está Dentro e Fora de Todos Nós

- Kleber Monteiro -

Quando se fala em Mundo dos Espíritos, a associação mais comum são as colônias espirituais. Daí, projetar o destino da alma após a morte do corpo nas paragens de uma cidade, a exemplo de Nosso Lar, onde se tem transporte, hospital, ministérios, alimentação etc. Ou, em caso de desajustes morais, o mais comum, a estadia que antecede estas colônias é uma espécie de vale de réprobos conhecido no movimento espírita brasileiro como Umbral. Contudo, a realidade do mundo espiritual é muito mais complexa e multifacetada do que se pensa.

Jesus, ao falar sobre o Reino de Deus nos Evangelhos, traz a ideia de imanência que é muito interessante e revelador da natureza do mundo dos espíritos. Em O Evangelho de Tomé, descoberto em 1945 entre os textos gnósticos de Nag Hammadi no Alto Egito, encontramos a seguinte passagem:

Se seus líderes lhe dizem: ‘Vejam, o reino está no Céu’, então os pássaros do céu os precederão. Se lhes dizem: ‘Está no mar’, então o peixe os precederá. Antes, o reino está dentro de vocês e está fora de vocês.

Interrogado pelos fariseus sobre quando viria o reino de Deus, conforme trecho em Lucas 17:20-21, Jesus lhes respondeu: “Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: Lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós.” As imagens mais contundentes da ideia de imanência do referido reino está nas parábolas da semente de mostarda e do fermento:

O reino de Deus é como um grão de mostarda que, quando é semeado na terra, é a menor de todas as sementes. No entanto, quando é semeado, ele cresce e se torna o maior de todos os arbustos, e cria grandes ramos, de modo que as aves do céu podem fazer ninhos à sua sombra.” (Marcos 4, 30-32)

O reino do pai é como o fermento que uma mulher pegou e escondeu em três medidas de farinha, até que tudo ficasse fermentado.” ((Lucas 13, 20-21).

É interessante e plenamente possível relacionar tais passagens dos Evangelhos à ideia de mundo espiritual numa perspectiva espírita. Segundo O Livro dos Espíritos, o mundo espiritual preexiste ao mundo corpóreo, é o mundo original (questão 85), e, embora sejam independentes, reagem incessantemente um sobre o outro, de modo que não há termo final em sua correlação (questão 86).

Sendo assim, os “vivos” não partem para a morada dos “mortos” após a morte, como se fosse necessário um deslocamento espaço-temporal para chegar a esse outro mundo, a não ser de forma simbólica no transe da morte, como a travessia de um rio, de uma ponte ou túnel de luz. Ou seja, todos nós já estamos no mundo dos espíritos.

As imagens de imanência do reino de Deus que aparecem nos Evangelhos e aqui foram apontadas, ajudam-nos a compreender que a vivência plena do espírito em sua condição de desencarnado (após a morte do corpo) no mundo dos espíritos é uma representação do que está nele, que é cultivada durante toda a vida e determina a natureza de sua qualidade, ou seja, determina a sua vida após a morte.

Se muitas descrições de espíritos sobre o mundo onde vivem apresentam condições semelhantes àquelas deste mundo, como a alimentação, construções, veículos etc, essa não é a realidade fundamental, mas a realização dos estados conscienciais e das necessidades de grupos de Espíritos vinculados uns aos outros por suas semelhanças. Não se deve, por exemplo, tomar o roteiro de um espírito narrado em romance mediúnico, como um paradigma, como um mesmo roteiro que todos devem seguir.

Não foi por outra razão que Kardec preferiu adotar a denominação desse conjunto de descrições dos Espíritos sobre o mundo espiritual de: Erraticidade, pois as suas diversas manifestações tomadas, posteriormente, como o mundo dos espíritos em si (compreendendo colônias e umbrais) representam os diferentes graus de progresso por que passa o Espírito na construção de sua própria história, de sua individualidade, rumo à realização plena do reino de Deus, dentro e fora de todos nós.



 

 


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