- Kleber Monteiro -
As curas promovidas por força de uma atuação espiritual, através de intermediários ou diretamente (sob a ação de Espíritos), devem nos levar além da costumeira perplexidade de se achar em face do mistério, do milagre.
No mínimo, precisamos ter ampliada a consciência de que a saúde está relacionada a condições próprias da natureza mais profunda no fenômeno da vida, o princípio espiritual.
De fato, este é um terreno movediço, onde exorbitam as fraudes, sugestões alimentadas pela fé e a cobiça. Contudo, para quem se dedicou ou se deu ao trabalho de pesquisar, é certo e não tão difícil deparar-se com casos autênticos, bem documentados, inclusive quando há a oportunidade de observação direta de cura espiritual.
Para além do exibicionismo, como acontece quando um médium toma uma faca sem qualquer assepsia e faz raspagens no olho de um doente ou executa coisas ainda mais violentas, a cura de natureza espiritual se processa por mecanismos que escapam à percepção dos sentidos comuns e revelam uma sofisticação muito além das fronteiras do avanço da medicina.
Um estudo pioneiro sobre o efeito da oração no tratamento de doenças foi realizado em 1988, no Hospital Geral de São Francisco, Califórnia. Pacientes, em um total de 393, que recebiam o mesmo tratamento na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) coronariana foram divididos em dois grupos. Sem o conhecimento de um grupo desses pacientes, preces intercessórias eram feitas à distância em favor deles. Após a inclusão dessas orações no tratamento, houve diminuição do uso de medicamentos, os pacientes sofreram menos edemas de pulmão e insuficiência cardíaca e quase não precisavam ser entubados para manutenção da respiração. É bom lembrar que as preces eram feitas sem o conhecimento desses pacientes, o que exclui o processo de sugestão.
Não é sem razão que a OMS, Organização Mundial da Saúde, passou a incluir, desde 1988, o bem-estar espiritual em sua definição de condições necessárias à saúde, em complemento aos aspectos físico, mental e social. Desse modo, já se pode identificar de doenças de origem espiritual em sua classificação. O CID 10 (Classificação Internacional de Doenças) da OMS, em seu item F.44.3, apresenta o transe e a possessão como uma das causas possíveis para os transtornos dissociativos, como perda transitória da identidade com manutenção da consciência do meio-ambiente.
Já não é tão recente a reflexão e estudo do papel da atividade mental na evolução da saúde e da doença. Em 1982, o médico Larry Dossey publicou o livro “Espaço, Tempo e Medicina”, no qual faz a seguinte consideração:
“... vários indivíduos já demonstraram sua capacidade de modificar a intensidade de um campo magnético registrado em um magnetômetro isolado de todas as influências físicas externas. Impossível? Sim, se nos apegarmos a uma definição estrita de consciência tal como o modelo reducionista adotado por Sagan e pela maioria dos cientistas em atividade.” (Ed. Cultix, pag. 240)
Daí a necessidade de ampliar o conceito de atividade mental: 1. A mente é espacialmente estendida; 2. A mente é temporalmente estendida; 3. A mente, em última análise, predomina sobre o físico; 4. Mentes são associadas. Esses atributos ratificam o conhecimento espírita acerca da estrutura psíquica como origem e móvel da vida, o que traz implicações fundamentais para o conceito de saúde.
Não só o tratamento de doenças, mas, e o que é mais importante, a manutenção da saúde deve incluir, de forma consciente e intencional, o que podemos chamar de medicina espiritual ou espiritualizada. E para ilustrar melhor a nossa caminhada rumo à compreensão da saúde em seu aspecto espiritual, vejamos o que diz Kardec quanto às forças movimentadas no processo de cura:
“Como vimos, o fluido é o elemento primitivo do corpo carnal e do perispírito, do qual são transformações. Pela identidade de sua natureza, este fluido, condensado no períspirito, pode fornecer ao corpo os princípios reparadores; o agente propulsor é o Espírito, encarnado ou desencarnado, que infiltra num corpo deteriorado uma parte da substância de seu envoltório fluídico. A cura se opera pela substituição de uma molécula sã a uma molécula malsã. A potência curadora estará, pois, em razão da pureza da substância inoculada; ela depende ainda da energia da vontade, a qual provoca uma emissão fluídica mais abundante e dá ao fluido uma força maior de penetração; depende, enfim, das intenções que animam aquele que quer curar, quer seja ele homem ou Espírito.” (KARDEC, Allan. A Gênese. Ed. Lake – 22ª ed. Pag. 250-251)
Esta é a base para entendermos os efeitos da oração sobre a saúde, bem como os casos mais extraordinários de cura espiritual. No livro “As Curas Paranormais”, organizado por George W. Meek, o antropólogo e Doutor em Filosofia, Lyall Watson, observou um caso espantoso ocorrido em uma aldeia às margens do rio Amazonas. Ele viu e fotografou um curandeiro local extrair um dente de um homem, apenas massageando com os dedos. Depois, para aliviar a dor, fez uma massagem nas glândulas inchadas da garganta do homem e pôs-se a cantar baixinho num dialeto indígena. Após alguns minutos um fio de sangue começou a escorrer pelos cantos da boca do paciente, e logo a seguir saiu dela uma fila de formigas-correição pretas e vivas, que iam em direção à mata e desapareciam. Depois disso, o paciente não mais sentiu dor.
O autor do relato informa que a palavra local para designar dor é a mesma empregada para descrever as formigas, por isso o curandeiro dissera que a dor abandonaria o paciente. De modo simbólico e como expressão de um fenômeno de efeitos físicos, como é comum em curas paranormais, houve uma retirada de “moléculas malsãs”, conforme definição de Kardec, desencadeado por um potencial magnético do curandeiro e contando com o auxílio espiritual necessário.
Se o CID10 da OMS prevê o fator espiritual em transtornos, conforme visto acima, o tratamento precisa se adequar à causa do problema e, para tanto, é imprescindível a colaboração de espíritos capacitados para o trabalho de cura. É o que nos ensina a própria experiência.
Pensar em uma medicina espiritualizada e em condições mais amplas de contribuir para a manutenção da saúde, depende, pois, não só de novos conceitos de independência da atividade mental, mas de levar em conta as nossas constantes relações com o mundo espiritual. Estes são os passos iniciais e alvissareiros para novos rumos à medicina espiritual.